2005-12-03

"Os Meninos Gordos"

Pelo seu interesse didáctico, transcrevo do suplemento "Milfolhas", do jornal Público, o seguinte texto, assinado por Rita Pimenta:

"Uma história, um livro e uma exposição.
Comecemos pela história. Em 1842, duas crianças muito gordas, Mateus e Ana, estiveram em Portugal para ser mostradas "devido à enormidade do seu peso": Mateus tinha 11 anos, pesava 201 quilos e tinha 1,52m de altura; Ana tinha nove anos, pesava 129 quilos e media 1,37m. Eram irmãos.
À epoca, o espanto foi tal (hoje também seria) que os ceramistas pintores retrataram-nos em pratos, canecas e paliteiros de faiança. Como as peças "chegaram aos nossos dias", resolveu a directora do Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães, Isabel Maria Fernandes, escrever um livro "sobre esta faiança com meninos gordos".
Para o livro foi convidada uma jovem ilustradora, Cesária Martins, que começou por desenhar as paisagens por onde as crianças passaram (Porto, Viana do Castelo, Braga e Guimarães) e só depois criou as personagens. Procurou remeter as imagens, "em termos de ambiente e estética", para as peças de faiança. "Mas quis criar empatia com os miúdos e não me agarrar demasiado às figuras históricas", explicou a ilustradora na apresentação do livro "Os Meninos Gordos", nos Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil, que decorreram em Novembro no Porto. Depois de desenhar a traço os meninos, Cesária Martins digitalizou tecidos e "encheu" os contornos das figuras, "dando-lhes texturas". Numas imagens resulta bem, noutras nem tanto.
O livro acabaria por servir de complemento a uma exposição que foi pensada de raiz para as crianças, "com um "lettering" grande e apropriado para os miúdos e com os painéis baixinhos, ao nível do seu olhar", conta Isabel Fernandes, especialista em cerâmica, ao Mil Folhas.
Numa organização conjunta entre o museu que dirige e dois outros museus da região, a exposição de "A História dos Meninos que Viraram Peças de Faiança" ficará até final de Fevereiro no Museu Municipal de Esposende, estará até fim de Julho no Museu de Barcelos e (em simultâneo) de Março a Setembro no Museu de Alberto Sampaio.
Dando conta do sofrimento por que estes meninos passaram, a autora aproveita o livro para sugerir aos miúdos (de hoje) que não comam demasiado. Naquela época, ao que se sabe, ainda não se usava a palavra "obesidade"."