2005-12-18

"Le Roman de Renart" no cinema

Diz-nos o Diário de Notícias do passado dia 15: "Natal é período de grandes produções, muitas das quais feitas a pensar no público infanto-juvenil. Enquanto os estúdios de Hollywood se centram nas aventuras polvilhadas de magia e efeitos especiais de ponta, casos de Harry Potter e o Cálice de Fogo e As Crónicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, a animação europeia dá hoje, nas salas nacionais, mais um passo na consolidação do seu estatuto de entretenimento para toda a família, capaz de habilidades surpreendentes na tecnologia digital.

Baseado na fábula medieval Le Roman de Renart (ver texto da página ao lado), a longa-metragem O Salta-Pocinhas é uma história de contornos clássicos, mescla de Robim dos Bosques e contos infantis que misturam a raposa arisca com outros animais. Neste caso, Reinaldo, a personagem que dá título a esta produção luxemburguesa, é um divertido e astuto anti-herói que, apesar de não ser modelo de virtude, prende o espectador da primeira à última cena pelas suas boas intenções e vontade em descobrir um tesouro que pode alterar o rumo do reino em que vive com a família.

Este "fora-da-lei", que rouba aos ricos para alimentar os filhos, desafia a hipocrisia da justiça e, em jeito de sátira social, enfrenta o oficial Lupino e os seus fiéis pouco dados à inteligência. Nesta missão, Reinaldo conta com o apoio de Rufino, roedor desajeitado (acha-se um expert em matéria de kung fu) que é também a personagem responsável pelas tiradas cómicas de O Salta-Pocinhas.

Esta produção do estúdio Oniria Pictures, que criou nova versão animada do clássico Tristão e Isolda em 2001, acaba por aproveitar o espírito rebelde e liberal do protagonista para revelar as fragilidades de uma espécie de regime feudal mágico, onde há ainda espaço para uma conspiração contra o rei Nobre (representado por um leão majestoso, que outra figura poderia ser?) e uma busca incansável pelo cálice da vida eterna, que irá dar jeito para re- solver os meandros desta histó- ria adaptada ao grande ecrã por Thierry Schiel e Erika Strobel.

Para o realizador Thierry Schiel, a figura de O Salta-Pocinhas "é um dos grandes épicos medievais, uma parte das lendas mais conhecidas de sempre que, com a mitologia e os contos de fadas, dão forma à literatura europeia dessa época". Ainda de acordo com as notas de produção do filme, a responsável Sophia Kolokouri sintetiza os trunfos desta obra que é exibida nas salas apenas na versão dobrada em português trata-se da combinação de "uma história forte e célebre, um argumento que apela aos novos espectadores, técnica de animação a três dimensões de cortar a respiração e um desenho inovador e refrescante."

Em suma, os ingredientes-chave para agradar ao público mais infantil que, nas salas portuguesas, apenas pode contar com Chicken Little, a animação que se estreou há já algumas semanas e que representa um golpe de auto-estima da Disney para provar ser independente da produtora Pixar.

O Salta-Pocinhas recebeu o Prémio do Público para Melhor Animação do Festival de Animação de Bruxelas 2005, além de ter dado nas vistas no festival FIFEM de Montreal. A grande aposta gráfica do estúdio Oniria Pictures prende-se com a capacidade de articular animação computorizada de três dimensões com fundos desenhados à mão. O que cria um efeito visual ambíguo ou, melhor, uma adequação dos contornos de filme animado segundo as técnicas tradicionais com a precisão digital na construção das expressões e dos movimentos das diversas personagens.

Na versão dobrada de O Salta- -Pocinhas, as vozes estão a cargo de Fernando Alvim (Reinaldo), Rui de Carvalho (Rufino), Ruben Castro (Lupino) e ainda uma pequena participação da apresentadora Fátima Lopes (como a galinha D. Inácia)."

Vale a pena ler os textos a este associados, sobre a personagem raposa e o Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro.