Pela mão de Rita Pimenta, diz-nos o suplemento "Mil Folhas" da edição de hoje do Público o seguinte, que passo a transcrever pelo seu inegável interesse didáctico:
"Vinte e cinco anos a brincar
Há mais de duas décadas que Álvaro Magalhães faz, desfaz e refaz palavras - a brincar. "Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande, quero ser um brincador", escreve no primeiro texto do livro que assinala os 25 anos da sua carreira literária. Título: "O Brincador".
Álvaro Magalhães já criou um limpa-palavras, porque acredita que "quase todas precisam de ser limpas e acariciadas". Algumas, diz-nos, "têm mesmo de ser lavadas, é preciso raspar-lhe a sujidade dos dias e do mau uso". Também não esquece que há palavras doentes e outras que chegam "simplesmente gastas, estafadas, dobradas pelo peso das coisas que trazem às costas" ("O Limpa-Palavras e Outros Poemas", 2000).
Já imaginou um menino com uma erva a crescer no lugar do coração, porque "se um rapaz ou uma rapariga estão a crescer, tudo lhes pode acontecer" ("Hipopóptimos - Uma História de Amor", 2001). Escreveu sobre uma criança, o Miguel, que tempos depois de nascer queria regressar à barriga da mãe: "Vou mas é voltar lá para dentro." "Quem vem dum sítio fofo, quente, calmo, aconchegado, silencioso etc. (a barriga da mãe também é muito etc.), não pode apreciar o barulho, as correntes de ar, as camisolas que picam e o resto" ("Isto é Que Foi Ser!", 1984). Inventou depois uma lagarta que se cansou de perseguir as outras e que adorava livros de poesia: "Os que se engolem melhor" ("A Mata dos Medos", 2001).
Autor da colecção Triângulo Jota (1989), que passou a série de televisão (emitida aos domingos na RTP1), Álvaro Magalhães faz nestas narrativas de mistério e aventura um uso singular do fantástico e mostra como as personagens se guiam mais por dinâmicas interiores do que pelos acontecimentos. Uma lógica que parecerá estranha a quem está convencido de que todos os jovens se interessam apenas e só pelas comunicações em tempo real, por uma quantidade infinita de "gadgets" inúteis que se lhes dirigem ou que se movem exclusivamente pela aparência. Por isso, centenas de leitores dos oito aos 20 anos compensam-no diariamente, lendo-o e exigindo sempre mais e mais volumes.
Em "O Brincador", reúnem-se 26 poemas retirados dos livros "Isto é Que Foi Ser!", "O Reino Perdido" (1986) e "O Limpa-Palavras e Outros Poemas". Cinco textos inéditos completam a obra, ilustrada com as pinturas de José de Guimarães.
Álvaro Magalhães é natural do Porto (1951), já assinou mais de 40 títulos (de poesia, contos, ficção e textos dramáticos) e venceu o Grande Prémio de Literatura para Crianças e Jovens 2000-2001, na categoria de texto literário. Em 2002, integrou a Lista de Honra do Prémio Hans Christian Andersen.
Sobre o "autor-brincador" escreve Manuel António Pina: "Na sua literatura a palavra nunca é um mero instrumento, mas antes um ser físico e semovente que o escritor limpa da usura quotidiana e restitui à sua milagrosa capacidade de, mais do que nomear, criar mundos e sentidos. Só os melhores escritores são capazes de fazer esse trabalho, e é justamente o facto de serem capazes de o fazer que faz deles grandes escritores." Não é conversa para brincadeiras."
Aproveito para lembrar qur Ávaro Magalhães estará na 8ª edição de No Branco do Sul as Cores dos Livros, a 9 e 10 de Março.
"Vinte e cinco anos a brincar
Há mais de duas décadas que Álvaro Magalhães faz, desfaz e refaz palavras - a brincar. "Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande, quero ser um brincador", escreve no primeiro texto do livro que assinala os 25 anos da sua carreira literária. Título: "O Brincador".
Álvaro Magalhães já criou um limpa-palavras, porque acredita que "quase todas precisam de ser limpas e acariciadas". Algumas, diz-nos, "têm mesmo de ser lavadas, é preciso raspar-lhe a sujidade dos dias e do mau uso". Também não esquece que há palavras doentes e outras que chegam "simplesmente gastas, estafadas, dobradas pelo peso das coisas que trazem às costas" ("O Limpa-Palavras e Outros Poemas", 2000).
Já imaginou um menino com uma erva a crescer no lugar do coração, porque "se um rapaz ou uma rapariga estão a crescer, tudo lhes pode acontecer" ("Hipopóptimos - Uma História de Amor", 2001). Escreveu sobre uma criança, o Miguel, que tempos depois de nascer queria regressar à barriga da mãe: "Vou mas é voltar lá para dentro." "Quem vem dum sítio fofo, quente, calmo, aconchegado, silencioso etc. (a barriga da mãe também é muito etc.), não pode apreciar o barulho, as correntes de ar, as camisolas que picam e o resto" ("Isto é Que Foi Ser!", 1984). Inventou depois uma lagarta que se cansou de perseguir as outras e que adorava livros de poesia: "Os que se engolem melhor" ("A Mata dos Medos", 2001).
Autor da colecção Triângulo Jota (1989), que passou a série de televisão (emitida aos domingos na RTP1), Álvaro Magalhães faz nestas narrativas de mistério e aventura um uso singular do fantástico e mostra como as personagens se guiam mais por dinâmicas interiores do que pelos acontecimentos. Uma lógica que parecerá estranha a quem está convencido de que todos os jovens se interessam apenas e só pelas comunicações em tempo real, por uma quantidade infinita de "gadgets" inúteis que se lhes dirigem ou que se movem exclusivamente pela aparência. Por isso, centenas de leitores dos oito aos 20 anos compensam-no diariamente, lendo-o e exigindo sempre mais e mais volumes.
Em "O Brincador", reúnem-se 26 poemas retirados dos livros "Isto é Que Foi Ser!", "O Reino Perdido" (1986) e "O Limpa-Palavras e Outros Poemas". Cinco textos inéditos completam a obra, ilustrada com as pinturas de José de Guimarães.
Álvaro Magalhães é natural do Porto (1951), já assinou mais de 40 títulos (de poesia, contos, ficção e textos dramáticos) e venceu o Grande Prémio de Literatura para Crianças e Jovens 2000-2001, na categoria de texto literário. Em 2002, integrou a Lista de Honra do Prémio Hans Christian Andersen.
Sobre o "autor-brincador" escreve Manuel António Pina: "Na sua literatura a palavra nunca é um mero instrumento, mas antes um ser físico e semovente que o escritor limpa da usura quotidiana e restitui à sua milagrosa capacidade de, mais do que nomear, criar mundos e sentidos. Só os melhores escritores são capazes de fazer esse trabalho, e é justamente o facto de serem capazes de o fazer que faz deles grandes escritores." Não é conversa para brincadeiras."
Aproveito para lembrar qur Ávaro Magalhães estará na 8ª edição de No Branco do Sul as Cores dos Livros, a 9 e 10 de Março.